O aroma que emanava da raspa da tangerina fazia antever que o Olfacto seria o eleito. A adição de vinagre no tacho propagava pela cozinha um odor forte. Novamente o Olfacto prevalecia. Tão erradamente. Enquanto o açúcar se esforçava por atingir o ponto de rebuçado, o líquido borbulhante emitia calor para a mão direita da cozinheira que, com a ajuda da colher de pau, ocasionalmente mexia os ingredientes. Estava frio lá fora. Talvez o dia mais frio deste ano. Oito graus centígrados. Uma realidade quase improvável neste clima atlântico temperado. Era, sem dúvida, o dia mais acertado para a cozinheira fazer os rebuçados caseiros. Os pés desta permaneciam enregelados junto ao fogão, mas as mãos, essas, anteviam momentos quentes. Imperava a premonição do Tacto. De seguida, veio a bolha morta e a necessidade de colocar umas gotas do preparado numa taça com água e apertá-las com o polegar e o indicador para constatar a união dos ingredientes. O princípio do Tacto. Ao cair na água, o tinir do aspirante a rebuçado foi a palavra mágica. A cozinheira untava agora com óleo a superfície de um prato e fazia escorrer outras tantas gotas generosas por entre os dedos das mãos. O óleo facilitaria o molde e protegeria as mãos do calor escaldante. O rebuçado era agora levantado sabiamente do prato. E dançava entre as duas mãos que o esticavam, que o enlaçavam e deslaçavam, que o atiravam ao ar para sentirem o fresco momentâneo da sua não-presença. De volta às mãos hábeis, o rebuçado era novamente puxado e mais uma vez torcido até ganhar a cor e a identidade desejadas. E as mãos sentiam. E as mãos criavam. Sempre as mãos. Sempre o Tacto.
Com este texto e receita participo no Passatempo 5 Sentidos com a Alecrim aos Molhos do blogue Limited Edition.
Ingredientes
250 g de açúcar
1 dedo acima do açúcar de água
2 colheres de sopa de vinagre branco
raspa ou casca de 1 tangerina pequena
manteiga ou óleo para untar o prato
Modo de Preparação
1. Coloca-se o açúcar num tacho, nivelando-o. Vai-se acrescentando água até um dedo acima do açúcar. Adiciona-se o vinagre e a casca da tangerina e mexe-se com uma colher de pau.
2. Leva-se a lume médio até estar a ferver de uma forma lenta e a fazer a chamada “bolha morta”, que rebenta lentamente. Não se assustem com o cheiro intenso a vinagre. Não passará para o rebuçado.
3. Enche-se com um dedo de água uma taça pequena. Retira-se um pouco do preparado e coloca-se na taça. Aperta-se com o polegar e o indicador para certificar que o preparado se está a unir, levanta-se ao ar e deixa-se cair novamente na água. Se se ouvir um tinido forte está pronto a apagar o lume. Outra forma é na própria tampa da panela colocar um pouco do preparado e verificar se ao puxar já faz fios de seda.
4. Unta-se um prato raso com manteiga ou óleo (certifiquem-se que o prato irá aguentar o calor). Retira-se as cascas de tangerina. Se preferirem utilizar a raspa, como eu fiz, só agora se adiciona ao rebuçado. Depois de estar nos pratos, o rebuçado deve arrefecer até ficar mais consistente. Unta-se uma faca em óleo e vai-se tentando mexer o rebuçado para arrefecer, sempre dos bordos para o centro, tentando aglomerar o preparado no meio do prato.
5. Unta-se as mãos com óleo e tenta-se retirar o rebuçado do prato e esticá-lo com as mãos. Convém fazer este passo com outra pessoa, também com as mãos untadas, para se irem revezando no esticar, pois o rebuçado ainda está quente e queima ligeiramente.
6. O rebuçado deve ser puxado com alguma insistência até ficar com a cor e a espessura desejadas. Poderão ser lisos ou torcidos.
7. O rebuçado deve ser cortado de imediato antes que arrefeça totalmente. Utiliza-se a tesoura de cozinha.
8. Os rebuçados são embrulhados em papel vegetal ou em papel celofane cortado a gosto.
Patrícia, como sempre, uma participação memorável! 🙂 Vou experimentar estes rebuçados. Beijinhos
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Têm um aspecto maravilhoso! Dá vontade de tirar uns quantos…
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Uma participação 5 **** e uns rebuçados cujo aroma até já consigo sentir aqui!!
Beijinhos,
Lia.
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Adorei, uma excelente participação.
Bjs
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Gostei imenso deste passatempo e Adorei a originalidade 🙂
Lindo texto e belissimos rebuçados… o cheirinho da tangerina chegou aqui 🙂
Bjinhos
Susana
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Sério mesmo que estou sem palavras… uma participação perfeita, em todos os sentidos!
Beijinhos
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Obrigada
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É preciso tacto para fazer estas coisas!! Fazer rebuçados e escrever desta maneira!!
Menos mal que na falta de olfacto e tacto, tenho a visao! Ao menos assim posso saciar os sentidos com tao pequenas beldades!! 🙂
Uma receita sem duvida dificil, mas com um resultado maravilhosoooo!!!
beijinho da Siberia!
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Tão lindos que ficaram os teus rebuçados!
Bom fim de semana 😉 Bjs.
Maria
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Oh adorável Patricia!!
Que bom com o perfume das tangerinas, e que maravilha devem ser.
Deram luta, mas enchem-nos os sentidos.
Um beijinho.
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Uau Patrícia, nunca me tinha passado pela cabeça fazer rebuçados, e de tangerina… só de pensar no sabor… hum, isso deve ser mesmo bom! Beijinho e bom fim-de-semana.
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Sou mesmo uma idiota, não sou? E sim ficaram mesmo saborosos. Tens de experimentar qualquer dia. Pões as tuas miúdas no fim a cortar o papel celofane e a embrulhar os rebuçados 😉
Beijocas
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Olá Patrícia!
Provavelmente não leste no facebook do blogue, mas pedi que as vencedoras do passatempo me enviassem um email com os seus dados (nome e morada) bem como o prémio escolhido. O representante da Alecrim aos Molhos encontra-se fora de Portugal há duas semanas em trabalho e pediu-me que reunisse os dados todos para que quando chegasse procedesse aos envios sem mais demoras. Envia para o email lim.edition2012@gmail.com
Obrigada e beijinhos,
Maria
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Obrigada. Enviar-to-ei ainda hoje. bjs
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